terça-feira, 2 de junho de 2009

Metamorfose

Este é o conto da aluna Patrícia Antunes, nº19 10ºB

Metamorfose

Era uma vez, uma rapariga órfã que não devia muito à beleza. Desde pequenina que as outras crianças faziam troça dela: “como são cruéis” – pensava Alice. Mas, agora já crescida a situação não se havia alterado, as pessoas da aldeia tinham posto a pobre rapariga de parte por acharem aquela criatura uma aberração da natureza. Alice, vivia assim, triste e solitária, numa pequena casa longe de tudo e de todos, ansiando por uma oportunidade para ser feliz.

Certo dia, Alice decidiu ir apanhar cogumelos à floresta que ficava perto de sua casa. Colocou o seu chapéu de palha na cabeça, calçou as suas socas de madeira, pegou no cesto e lá foi ela, pelos toscos caminhos de terra batida até chegar ao local pretendido. Quando chegou, lá estavam eles, os cogumelos, grandes e apetitosos, eram tantos que ela nem sabia quais escolher para levar. Mais à frente estava o maior de todos, Alice nunca vira nenhum assim. Correu para junto dele e começou a desenterra-lo. De repente deparou-se com uma situação estranha, mesmo por baixo daquele enorme cogumelo estava um papel sujo, amachucado e com um ar muito antigo. Intrigada, retirou-o, limpou-o e mais admirada ficou quando viu que aquele não era um papel normal, era um mapa de um tesouro!

De volta ao seu lar, analisou mais atentamente o mapa que tinha descoberto. Com o auxílio de uma lupa reparou que havia uma pequenina frase. Infelizmente com o passar dos anos as letras tinham-se deteriorado e só com muito esforço, Alice, conseguiu ler: “Juventude e Beleza eterna poderá desfrutar, se o tesouro mágico encontrar”. A rapariga nem queria acreditar que tinha chegado a possibilidade de concretizar um sonho! Porém, mais abaixo lia-se: “ a profecia só se realizará no primeiro dia de Primavera”.

Por momentos esqueceu tudo, estava tão entusiasmada que só depois de lembrou que faltavam apenas três dias para o começo da Primavera. Era muito pouco tempo para atravessar toda a floresta, em direcção à costa até descobrir a gruta onde se encontrava o tesouro. Preocupada com este facto, resolveu que na manhã seguinte iria à aldeia procurar alguém que a ajudasse.

Tal como tinha planeado, Alice, levantou-se cedo e dirigiu-se até à terra que outrora a tinha repudiado. Mal chegou, viu que a tarefa ia ser difícil, as pessoas ao verem-na viravam a cara, baixavam o olhar e faziam comentários maldosos. Contudo, a sua força de vontade era superior a tudo isso, confiante foi batendo de porta em porta, mas em nenhuma obteve resposta…

Já cansada e abatida preparava-se para ir embora, quando sentiu uma mão no ombro. Olhou para trás, um rapaz com ar jovem, vestindo roupas bastante coloridas e originais, sorriu-lhe. Um pouco embaraçada devolveu o sorriso e timidamente perguntou-lhe:

- Quem és tu?

- Peço desculpa se te assustei, não era minha intenção – respondeu o rapaz, tentando acalma-la – Bem, não me apresentei, sou o Artur, mas aqui na aldeia todos me tratam por “papagaio”.

- Papagaio?! – exclamou, muito espantada.

Artur apressou-se a responder:

- Como já deves ter reparado, a minha forma de vestir não é, muito comum! Para além disso, tenho fama de ser muito tagarela.

A rapariga riu-se e tratou de se apresentar:

- Eu sou a Alice, ando à procura de alguém que me ajude a encontrar o tesouro que realizará o meu sonho. Infelizmente, parece que aqui, ninguém me quer ajudar.

Abalada, baixou a cabeça para ele não ver que estava prestes a derramar um mar de lágrimas.

- Não gosto de ver ninguém triste! Vá, cabeça erguida, que para a frente é que é o caminho! – Disse-lhe num tom reconfortante – E, também me parece que já não tens razões para estar assim, acabaste de ganhar um companheiro para essa tua longa viagem em busca do tesouro escondido!

A rapariga ficou radiante, os seus olhos brilhavam, agora, de tanta felicidade.

- Sabes, também já passei por isso. Sempre gostei muito de moda, e o meu sonho era ser um estilista famoso, contudo, as pessoas nunca apoiaram a minha ideia, por acharem pouco viril. Mas, eu não desisti e agora trabalho num atelier na cidade – animou-a, fazendo-a sentir ainda mais esperançosa.

Os dois abraçaram-se e partiram juntos numa caminhada que prometia vir a ser dura.

Bastavam, agora, apenas dois dias, no entanto, a viagem estava a correr muito bem. Durante aquele tempo tinham conversado imenso, e Alice percebeu então, porque o chamavam “papagaio”, à parte disso, aparentava ser boa pessoa!

Entretanto na cidade tinha-se espalhado a notícia de que uma rapariga andava à procura de um tesouro que concedia beleza e juventude eterna a quem o encontrasse. Ao saber disto, Rosa, que se auto-intitulava rainha da moda, mas cujo tempo já tinha passado por ela, encontrando-se actualmente num estado envelhecido, mandou de imediato chamar os seus guarda-costas.

- Dizem por aí, os boatos, que uma tal de Alice anda à procura da fórmula da juventude e beleza. Como sabem já não vou para nova e a minha reputação junto da imprensa também não anda lá muito famosa, por isso, oiçam-me bem: quero que encontrem essa rapariga e me levem até ela. Aquela fórmula tem que ser minha, ouviram?! MINHA! – exclamou irada.

Os guardas nem estremeceram.

- Ah! Só mais uma coisa, não se atrevam a falhar! – Disse-lhes por fim, num tom maléfico.

Após longas horas de caminhada, encontravam-se agora a meio do terceiro dia, muito perto de realizarem os seus objectivos. Alice não podia estar mais confiante, enquanto Artur estava feliz por vê-la assim. No entanto, ambos tinham um mau pressentimento que não conseguiam explicar, sentiam que estavam a ser perseguidos.

De repente, quando menos se fazia esperar apareceram dois homens muito altos e espadaúdos, e por detrás destes estava a “rainha” da moda com um ar emproado.

- Exijo que me dêem o mapa do tesouro! – Gritou ela, arrogantemente, como se fosse a dona do mundo – Se não o fizerem, os meus guarda-costas não vos deixarão prosseguir.

Os dois homens provocavam medo, com toda aquela robustez e altura. A rapariga ficou assustada vendo o seu sonho ir por água abaixo, mas Artur, não!

Num tom desafiante, Artur respondeu-lhe:

- Não vos daremos o mapa! Se o quiserem, terão de lutar. Proponho um combate!

Alice nem queria acreditar no que acabar de ouvir. Aflita sussurrou ao ouvido do amigo:

- Mas tu estás maluco?! Já viste o tamanho daqueles dois? Sabes que a violência não leva a lado nenhum. Desiste já dessa ideia!

- Calma, confia em mim – sossegou-a.

Irrequieta, Rosa, a rainha, aceitou de imediato a proposta, pensando que ia ganhar. Porém, o rapaz reformulou a questão:

- Não é um combate qualquer, é uma prova sobre moda! O que me diz? Sendo rainha, não deve ter problemas em aceitar, não é verdade?

- Claro que não rapazolas, por quem me tomas? É evidente que aceito!

Ao fim de algumas horas, de muito esforço e suor, a rainha foi destronada pela completa sabedoria de Artur. Alice pulava de alegria, contudo, já era tarde e tinham que se despachar.

Ao avistarem a gruta, correram até lá e entraram. A rapariga não se conteve, os seus olhos acumularam-se de água, e começou a chorar de felicidade ao ver o tesouro junto a si. Encheu-se de coragem, susteve a respiração, e abriu a tampa da arca, era agora ou nunca!

Foi então que Alice ergueu um espelho. Olhou-o fixamente, e não viu apenas o reflexo da sua face. Viu uma nova rapariga. A pequena e ingénua Alice tinha desaparecido. Estava ali uma nova mulher, confiante, forte e corajosa. Tinha mudado, não por fora, mas por dentro!

Saíram da gruta e sentaram-se na areia a observar o mar, enquanto o sol se punha.

- Estás muito calado, nem parece teu – disse Alice muito calmamente.

- Durante esta viagem, tenho andado para te dizer uma coisa…

- Então, agora tens a tua oportunidade, conta-me lá o que me querias dizer.

- Sabes, isto não nada é fácil – Artur sentia as suas faces corarem – A verdade é que estou apaixonado por ti…

A rapariga sorriu-lhe, os dois beijaram-se e selaram o amor que os uniu durante a vigem até ao tesouro.

Entretanto, uma borboleta pousara no ombro de Alice. Era linda, tinha asas grandes e coloridas. Outrora havia sido uma lagarta, depois isolara-se dentro de um casulo e agora, no primeiro dia Primavera, a espantosa criatura libertara-se. Era livre. Tal como Alice era livre para ser feliz!

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